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as que gosto
situação: o meu filho adolescente tristonho, macambúzio, displicente . esta mãe: ai rico filho, amor lindo da sua mãe, o que se passa, que desalento é esse, meu belo e borracho filho? ó mãe quando é que vão para fora? esta mãe: para fora como? então este fim-de-semana não iam até ao alentejo ? íamos, mas não me apetece; isso não é motivo, vão lá, estava com esperança de ter a casa só para mim, estou a precisar ficar sozinho; sozinho? sim, mãe, sozinho .
rico filho precisa de solidão e introspecção para dar uma festança sem a supervisão, vá, presença, de mãe querida . ai rico filho, o diabo sabe muito, não porque é sábio, o diabo sabe muito porque é velho . e este veste zara .
as que aturo
eu preciso do meu espaço . o meu espaço é um perímetro definido pela minha cabeça e que não pode ser ultrapassado por estranhos, ou pode nos dias em que a minha cabeça não desenhou o perímetro . raros dias esses, mas acontecem, porque também há situações em que a minha cabeça não quer saber de mim e não impõe nenhum perímetro, até vamos dançar a sítios com outras pessoas, vamos ao cinema, estamos em filas, vamos aos saldos, às festas do mar e isso . mas depois há aqueles sítios em que ela desenha o perímetro e é chato que o passem . ora dá-se o caso das minhas aulas de pilates/pump/whatever estarem saturadas de gente, mas eu preciso de espaço, porque preciso, porque tenho medo que me partam os dentes da frente com um calcanhar desgovernado, porque há cheiros que a proximidade não perdoa e porque sou doente dos nervos . e as outras pessoas não querem saber disso para nada, estarem com o queixo em cima do ombro do desconhecido é-lhes natural, estarem naquele bocado de chão onde eu estou não tem importância . mas para mim tem . respeitem as minhas manias, vai que me dá para morder, assim respeitam o meu espaço? a praia, por exemplo, a praia é outro sítio em que ponho o meu perímetro . estou ali no meu guarda sol com a minha cadeira e as minhas coisas - preciso do meu conforto, o tempo da toalha ao pescoço e o bronzeador na mão já era - e chega uma família, o que faz a família? sim, é isso, a família vai plantar-se ao meu colo, mesmo que a praia esteja vazia . querem o meu colo, o meu aconchego e partilhar a minha antipatia . é ilegal empurrar pessoas? a perguntar para uma amiga .
as que merecem ser cumprimentadas com uma chapada
estava eu ontem no café pela fresquinha, ainda naquele estado que caracteriza muitos seres humanos pela manhã e desata-me a entrar pelos ouvidos o discurso de uma pessoa, daquelas que gostam de se ouvir e estão convencidíssimas que os outros também . a pessoa até estava a falar para o funcionário do café, mas se calhar é mouca e por isso acha que o empregado também é e falava-lhe altíssimo, de vez em quando também rodava a cabeça à procura de contacto visual extra, ah agora temos de separar o lixo e eu tenho lá vida para isso, eu não sou uma desocupada e coiso, coiso - entretanto tudo quanto a pessoa dizia parecia um ruído indecifrável, depois voltei a ouvir - porque andaram anos a fazer disparates e agora nós é que pagamos. pois pessoa, pois, já viste os energúmenos dos outros que te estragaram o planeta, tu que foste um exemplo de contenção e consumo inteligente, e agora sugerem-te que separes o lixo, francamente . pensei, não disse, mas tenho-a jurada, aos 55 anos vou dizer coisas que agora só ficam na minha cabeça, aos 55 anos vou dizer muitas coisas . já agora, alguém sabe se é muito ilegal dar chapadas às pessoas? a perguntar para uma amiga .
o que me rala a mim, a pessoa que vos escreve
basicamente tudo e um pouco de tudo o resto . arranjei o cabelo, fui ao ginásio e saí de lá com o cabelo arruinado . arranjei o cabelo, saí à rua e o dia húmido arruinou-me o cabelo . arranjei o cabelo fui jardinar e arruinei o cabelo . por mera curiosidade académica, alguém sabe se os chapéus estão na moda? a perguntar para uma amiga .
passo a vida ralada
• Instagram @maria.antonia.velez