273 - O vírus, as minhas unhas, a falta que o meu café em frente ao mar me faz, a vida, o nirvana e eu
Mac
20º dia de quarentena
segunda dezena da quarentena . vinte dias . as cápsulas de café para reciclagem estão a acumular-se . espero não chegar aos 50 sacos de cápsulas
pintei as unhas com o encarnado de verão . ando a cometer loucuras . há um encarnado mais escuro, que é o de inverno e este mais aberto, que acho mais giro para as roupas de verão . cá coisas minhas, que agora com a quarentena vêm cá para fora sem pudor . é uma boa desculpa . eu acho . pintei-as com este encarnado e isso deu-me um bem estar cerebral tremendo . até imaginei o verão, nós todos na praia, a vida normal e tudo bem .
a vantagem de ter largado o gel e o gelinho já há muitos anos é que me habituei a fazer a minha própria manicura . também arranjo quase sempre o meu cabelo . sou por assim dizer, auto-suficiente . consigo inclusivamente maquilhar-me e tomar banho, comer sozinha também . isso dá-me, assim como a qualquer mulher, uma enorme liberdade, que nestas alturas - a primeira e espero que única - dá para manter tudo nos trinques, sem depender de terceiros . deus me livre se agora andava para aí a roçar os meus cabelos desgrenhados, com sorte apanhados num carrapito, nas caras dos meus homens .
bem, isto para dizer que depois de passar a primeira semana, em que estava demasiado desorganizada , cheia de tarefas que me auto atribuí e isso e não consegui arranjar tempo para pintar as unhas, consegui organizar-me, também ajudou descartar metade das coisas que achava que iria conseguir fazer na casa - e que não são essenciais, pelo menos agora - e tenho feito um esforço para manter uma certa normalidade . arranjo o meu cabelo, pinto as unhas, perfumo-me todos os dias, faço uns conjuntos com as roupas de andar por casa, mas como estas roupas nunca foram sinónimo de trapos velhos escafiados, junto-lhes umas sabrinas ou ténis, pulseiras, anéis, enfim, o que me apetece no dia, e a coisa fica visualmente aceitável .
é verdade que há alturas em que penso para que faço eu isto, se estou aqui fechada . faço por mim, acima de tudo, e depois por eles . a situação já é demasiado deprimente para ainda me olhar ao espelho e não gostar do que vejo . já me basta o que se passa na minha cabeça e que não quero de todo que venha cá para fora . continuo a negar-me andar à luz do dia de pantufas . ainda não me entreguei às mãos de deus, portanto .
preciso do meu café ali à frente do mar, sempre no mesmo sítio