218 - Os meus vizinhos, a vida, o nirvana e eu
Mac
Temos a vizinha que deixa o cão no jardim e nunca, nunca mesmo aquele animal sai dali, ali faz os cocós que depois ela apanha, ali vive sem nunca jamais sair e ver mais do que os muros e a rua através do portão. O cão da minha vizinha ladra de madrugada, de manhã, à tarde e à noite. Depois ladram os cães todos até Cascais. Temos os vizinhos da rua de baixo que vêm para aqui para a minha rua deixar os cocós dos cães deles, porque na rua deles não pode ser. Temos a alemã que briga com os jardineiros, porque quando se corta a relva, diz que lhe sujam a roupa que está no estendal. Ela não tem estendal. A relva dos outros não vem para o meu jardim, que é ao lado do dela. Temos o que atira com a bola e invariavelmente a bola vem aqui parar. Tenho uma boa colecção de bolas. Temos o que estaciona sempre à frente dos portões de garagem, porque vê a vida ao contrário e numa rua onde há imensos lugares de estacionamento e não passa nada, a não ser os vizinhos da rua de baixo com os cães, ele acha que é assim que se estaciona. Temos o que deixa os cães andar à solta na rua e os da rua de baixo fogem, porque os cães são enormes (adoro-o, a sério que sim). Temos o chinês que rouba terra das obras, e pedrinhas, e anda a construir um jardim zen. E temos-me a mim.
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