a vida em azul cueca

ultimar os preparativos para receber o bebé . arrumar o muda fraldas . as gavetas com roupas . ver se o esterilizador funciona . fazer mais umas compras . falta sempre qualquer coisa . finalmente fazer a mala para a maternidade . pois . e ele está previsto para o final de outubro . mas diz que é melhor . e que ando a arriscar e o coiso . ainda quero ir à praia . ver umas séries . estar com os amigos . fazer uma panna cotta . e mais não sei o quê . os dois dias chegam. têm que chegar . 

Tudo quanto meta bisturis, agulhas e coisas para me cortar, proporciona-me uma tendência estranha para fazer filmes de qualidade duvidosa e pensar em coisas parvas, para depois encontrar uma solução. Encontro a solução e passo à etapa seguinte, elevar o calibre do meu exercício parvo, até não lhe encontrar solução. Ocorreu-me que poderá dar-se um sismo, quando me estiverem a fazer a cesariana. E tudo a abanar, os médicos, anestesistas e tal a correrem pela vida e eu para ali esparramada, anestesiada (só da cintura para baixo), ainda por coser e o camandro. E para esta não encontro solução, só tipo uma chantagem com alguém que por ali esteja e consiga coagir a carregar comigo e com o meu bebé. E depois de carregar comigo e com o meu bebé, vamos para onde, se está tudo a abanar e eu continuo por coser? O que uma boa dose de cagunfas não faz na mente de uma mulher. Raios para mim.

[os médicos não podem abandonar os pacientes, pois não? E de certeza que, mesmo com tudo aos tremeliques, são obrigados a coser-nos, antes que passe a anestesia. Espero. Tenho de me informar muito bem sobre o Código Deontológico deles] 

 Santa Amazon, como te amo assim perdidamente, cariño. 

Porque há coisas que são demasiado importantes para nos passarem ao lado. Porque aconteceu com duas mulheres da família, que graças a Deus, à medicina, à sorte e à força que ele permitiu, continuam cá, e a uma amiga. Porque aconteceu à irmã de um grande amigo, tão nova, tão injusto, tão letal, e a uma outra amiga, que ele levou. Porque a minha lista já é demasiado extensa. Porque sou mulher. Porque vivo rodeada de mulheres. Mãe, irmãs, cunhadas, tias, primas, sobrinhas e amigas. Porque há muitos alvos. Todas nós. Porque nos interessa a todas e não vale a pena fingir que não existe. Porque vale a pena prevenir. Lutar. E viver. Vale, sim. 

No GR tenho montanhas de blogs de decoração, arquitectura e fotografia, maioritariamente norte americanos, além de outros, mas agora para a conversa só interessa focar estes, e como são muitos já não leio a maior parte, só passo com o mouse e vejo as fotos, que é como quem diz os bonecos, mas há uma coisa que me deixa numa ambivalência entre o orgulho e qualquer coisa como vergonha, é que sempre que vejo uma foto de uma casa a cair de podre, ou em mau estado, paro e faço uma aposta mental é em Portugal, e depois é mesmo. Pronto, para os norte americanos, somos assim um povo que mora em casas seculares mal conservadas, fotografáveis e giras por isso, mas é aqui que reside o minha ambivalência, orgulho-me de ver as nossas casas pelo mundo fora, em sites da especialidade e com notas bastante positivas, mas desgosta-me qualquer coisa que as identifique, não pela arquitectura, mas pelos estragos. 

E claro, o Blonde Salad, da feiosa da Chiara, a malvada.

São às pazadas, um deles é o Atlantic-Pacific da Bee.

Preciso muito, quer dizer, quero as jardineiras da OshKosh para o Mac Baby. Adoro-as e o Mac Kid teve-as desde os três meses até aos três anos, mas ofertei tudo, maneiras que batatinhas, há que comprar tudo de novo. Na época comprava-as na Orsetto, que nos entretantos se sumiu do mapa. A loja que a marca tinha no Chiado, também.

Minhas amigas, não querendo fazer de vós o meu private google, mas já fazendo, por acaso sabem onde as podemos encontrar aqui no burgo e arredores? Muito e muito agradecida.

E fazia gala em permanentear os cabelos lisos com que nasci e, acima de tudo, mantê-los bem despenteados, acompanhados de uma franja farfalhuda. Credo.

Andei a folhear álbuns de fotografias e fui dar comigo adolescente. 

Aos dezasseis anos resolvi que já era uma mulher, apesar de imatura, como qualquer ser daquela idade, mas convencida da minha grande maturidade, resolvi começar a fazer o risco preto nos olhos, que mantenho até hoje, como que para mostrar ao mundo como já era evoluída. Não era. Apesar de me esforçar em roupas e disparates. As adolescentes não são lá muito espertas e eu não fugi à regra.

E reparei que ficava muito melhor nas fotografias em que estava na praia, porque não tinha o tal risco nos olhos. A verdade é que aquela cara tinha acabado de sair da infância, encimava um corpo já quase adulto, mas ainda tinha bochechas. Por amor da Santa, o que me escorreu para parecer uma criança libidinosa? Nada, claro, se tivesse escorrido não teria andado naqueles preparos, a rematar com saias que mais pareciam cintos e botas de carneira com saltos de sete centímetros.

Ao fim destes anos todos, espero já ter retido que less is more, em alguns casos mais é mais.